Série Exposição: Conselho aos Cativos (Jeremias 29.4-13)



Nas palavras do teólogo escocês, Myer Pearlman, tanto Isaías como Jeremias levaram mensagens de condenação ao Israel apóstata. Enquanto que o tom de Isaías é vigoroso e severo, o de jeremias é moderado e suave. O primeiro leva uma expressão da ira de Jeová contra o pecado de Israel; o último, uma expressão de seu pesar por causa dele. Ao repreender Israel, Isaías imergiu sua pena no fogo e Jeremias, nas lágrimas. Isaías, depois de denunciar a iniquidade de Israel, prorrompe em êxtases de alegria ao ver a antecipação da independência vindoura. Jeremias teve um vislumbre do mesmo acontecimento feliz, mas esse vislumbre não foi suficiente para enxugar-lhe as lágrimas ou dissipar a névoa de seu pesar pelo pecado de Israel. Por causa deste último fato Jeremias é conhecido como “o profeta das lágrimas”. O que abaixo se segue servirá como tema de seu livro: o amor imutável de Jeová ao seu povo apóstata e sua tristeza por causa da condição deste.

Jeremias. Foi chamado ao ministério quando era jovem ainda (1.6), no ano décimo-terceiro do rei Josias, mais ou menos setenta anos depois da morte de Isaías, profetizando até a primeira parte do cativeiro da Babilônia, cobrindo um período de mais ou menos 40 anos.

Era filho de Hilquías, um sacerdote de Anatote na terra de Benjamim. Mais tarde, provavelmente por causa da perseguição de seus patrícios e de sua própria família (11:21; 12:6), deixou Anatote e foi para Jerusalém. Alí e em outras cidades de Judá, exerceu seu ministério. Durante os reinados de Josías e Jeoacaz, foi-lhe permitido continuar seu ministério sem embaraços, mas durante os reinados de Jeoiaquim, Joaquim e Zedequias, sofreu perseguição.

No reinado de Joaquim foi aprisionado por sua audácia em profetizar a desolação de Jerusalém. Durante o reinado de Zedequias, foi preso como desertor, e permaneceu na prisão até a tomada da cidade, época em que foi posto em liberdade por Nabucodonozor que lhe permitiu voltar a Jerusalém. Quando de seu regresso, procurou dissuadir o povo de voltar para o Egito para escapar do que acreditavam ser um perigo iminente. Recusaram seus apelos e emigraram para o Egito levando consigo Jeremias. No Egito continuou os seus esforços para levar o povo de volta ao Senhor. A tradição antiga conta que, encolerizados por suas contínuas admoestações e repreensões, os judeus finalmente mataram-no no Egito.

Este capítulo, em especial, traz várias cartas: uma de Jeremias aos exilados (vv. 1-14); outra sobre os falsos profetas judeus na Babilônia, à qual Jeremias respondeu (vv. 15-23); outra ainda de Semaías para os sacerdotes do templo, falando sobre Jeremias e que o profeta leu (vv. 24-29); e mais uma de Jeremias aos exilados, falando sobre Semaías (vv. 30-32). Manter uma correspondência como essa não era difícil naqueles dias, pois havia missões diplomáticas frequentes entre Jerusalém e a Babilônia (v. 3), e Jeremias tinha amigos nos altos escalões do governo.

Essa passagem específica, é dirigida aos cativos da primeira deportação. Trata-e de uma carta e foi escrita para instruir os desterrados a que se preparassem para fazer seu lar em Babilônia por um período de setenta anos, e para admoestá-los a não ouvir aqueles profetas que falsamente predisseram uma volta num período diferente do profetizado. Mas, afinal, o que vem a ser um cativeiro, e o que isso tem de aplicação na minha vida?

1. DEFININDO CATIVEIRO:


Quando do advento do regime militar, em 1964, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso bem como outros comunistas da época, ameaçados de prisão, se ocultou no Guarujá e depois viajou para o Chile, onde viveu até 1967, num período que ele mesmo chamou de exílio. E esse é o tema que permeia mais de 95% desse livro profético. Mas afinal, o que é um exílio?

Segundo o léxico, a definição de exílio ou cativeiro é:


· s.m. Privação da liberdade; situação de escravo; servidão, escravidão. Lugar ou condição de quem se encontra preso; prisão, clausura. Escravidão, servidão. fig. opressão ou prisão moral ou espiritual; domínio.

A palavra usada é o termo hebraico gôlâh, tendo seu equivalente na palavra latina exílio ou cativeiro. A etimologia dessa última tem origem no latim CAPTIVARE, “escravizar, dominar”, por extensão “seduzir”, relacionado a CAPTARE, “pegar, agarrar, tomar”. Já a palavra exílio também procedente do latim, vem de “EX-SILIUM” ou “EX-ILIUM”, de “EXSUL”, "pessoa banida", também encontra correspondente no grego ALASTHAI, isto é, "vagar, andar ao léu". O exilado, portanto, num certo sentido, não é apenas o indivíduo privado de algo, mas também alguém “vagabundo” pela terra sem apego a nada, um escravo da liberdade, sem limites, desapegado.

Logo, de forma figurada, o cativo, ou preso, não é apenas o que está privado de sua “liberdade” em algum área de sua vida, ou aprisionado a algum tipo de vício como cigarro, a bebida, drogas, pornografia ou qualquer outro tipo de prática pecaminosa, mas também refere-se àquele que é um errante, ou sem território, sem limites em qualquer área da vida, sem qualquer exercício de domínio próprio; Um amoral, por assim dizer. Esses tipos de pessoas não reconhecem “certo” ou errado”, são amantes de si mesmos, hedonistas e relativistas. Tais definições podem ser melhor compreendidas á luz da leitura de 2 Pedro 2.19 (b) quando este assevera que “(...)de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo.” Ou seja, se a pornografia te vence, você se torna escravo da pornografia. Se álcool te vence, torna-se escravo do álcool. Se o teu orgulho ou sua autoimagem falam mais alto do que o chamado de Deus à cruz de Cristo, você é cativo de seu próprio ego. E o mesmo princípio se aplica a qualquer área da nossa vida em todas as esfera e, acima de tudo, na espiritual cuja jurisdição é sobre todas as demais áreas existenciais.

Podemos descrever, portanto, toda aflição real que chega a alguém, seja cristão ou não, como um cativeiro. Estar em uma condição que nunca devemos preferir voluntariamente, ou ser retida pelo poder de algo que não podemos controlar, daquilo que ansiosamente desejamos fazer? Este é o caso de doenças corporais, com perplexidades de negócios; às vezes até com deveres providenciais. Todo cativeiro de que o cristão é vítima terá um fim. Na pátria acima, trabalhamos sem cansaço, e servimos a Deus sem imperfeição. Então, na perspectiva dessa casa, podemos muito bem ser reconciliados por uma temporada com os desconfortos do nosso exílio atual.

Historicamente, no caso da nação de Israel, as causas do cativeiro remontam a um rei chamado Manassés, conforme fica esclarecido no livro do profeta Jeremias:

Entregá-los-ei para que sejam um espetáculo horrendo para todos os reinos da terra; por causa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo quanto fez em Jerusalém (Jer. 15.4).

A impiedade desse rei e a forma como, durante muito tempo, desprezou Deus e sua palavra teve tal influência sobre aquela nação que, segundo o relato escriturístico, foi a causa imediata do exílio, que finalizou-se quase cem anos após o início de seu reinado culminado com a destruição de Jerusalém. O impacto foi tamanho que, mesmo após sua conversão (II Cron. 33.11-13), o período restante de seu reinado não foi suficiente para mitigar o efeito devastador de sua impiedade que, como dito pelo profeta, chegou ao “ponto de fazerem pior do que as nações que o Senhor havia destruído diante dos israelitas”(II Crônicas 33:9). Isso nos mostra que, embora por meio do arrependimento, nossos pecados possam ser perdoados, suas consequências jamais poderão ser evitadas, pois “aquilo que o homem plantar, ele colherá” (Gal. 6.7).

Práticas pecaminosas do passado, ainda que perdoadas e lavadas no sangue do cordeiro, não poderão aplacar os efeitos do castigo consequente, podendo, inclusive gerar efeitos colaterais na piedade de outras pessoas dependendo do nível de autoridade e influência a nós conferido. Um pai, ou uma mãe abusivos, agressivos e violentadores, ainda que se arrependam legitimamente de seus pecados, não poderão evitar as consequências que seus atos terão em seus filhos quando estes chegarem à fase adulta. Assim como um viciado em pornografia, ainda que se arrependa, a muito custo superará os efeitos que essa prática terá sobre o seu casamento. Isso nos leva ao motivo pelo qual Deus usa o cativeiro: Para cumprir seus propósitos.

2. VERDADES SOBRE O CATIVEIRO.

Nessa etapa, a carta ditada por Deus a Jeremias, com informações acera deste evento vindas do próprio Deus, é escrita:

a) Esses conselhos vem do próprio Deus “Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel” ... - Acordando com o puritano Jhon Gill, a carta foi escrita pela ordem do Senhor, foi selada por ele e foi enviada em seu nome; Ele é o autor e o profeta era apenas o seu “secretário”; Os títulos que o Senhor aqui utiliza são dignos de aviso: "Senhor dos exércitos": dos exércitos acima e abaixo, que faz de acordo com o seu prazer no céu e na terra, com quem nada é impossível; que poderia facilmente destruir os inimigos do seu povo, e livrá-los, imediatamente por seu poder, ou mediatamente por meio de exércitos na terra, a quem ele poderia reunir e enviar com prazer; ou por legiões de anjos ao seu comando.

b) Esses conselhos são à todos os tipos de cativos “A todos os que são levados cativos” - Ou "a todo o cativeiro"; ou "a todo o cativeiro"; alto e baixo, rico e pobre; Esta carta foi interessante para todos eles. Ademais, o homem não foi criado para o senhorio, mas sim para a servidão. O ser humano sempre será cativo a alguém ou alguma coisa pois não é autônomo (não possui autonomia moral, temporal ou ontológica). A pergunta é: de quem você será servo?

Existem diversos tipos de cativos, e essas recomendações são úteis à todos: Há os que são cativos por causa do próprio pecado (os que deliberadamente o amam e o praticam), há os cativos religiosos presos às heresias, enganos, idolatrias e feitiçarias e há o cativeiro divino usado por Deus para disciplina e aperfeiçoamento de seus filhos (Veja o caso de Jó e José).

c) Esse cativeiro vem de Deus “Os quais Eu fiz transportar de Jerusalém para Babilônia”;- Deus, diretamente, chama para si a causa original e ativa do cativeiro. Seus pecados e iniquidades foram as causas móveis, meritórias e conquistadoras de seu cativeiro e Nabucodonosor e seu exército os instrumentos; mas Deus era a causa eficiente: os caldeus nunca poderiam ter levado cativos, se o Senhor não quisesse ou não o fizesse por eles. E isso nos leva a pergunta quase universal: Porque Deus faz isso? Por que Deus determina esse mal, mesmo sobre o seu povo? Podemos levantar alguns pontos:

I. Juízo sobre o pecado:
A maioria das privações, das prisões morais ou espirituais dão-se por causa das
consequências dos pecados sobre os quais não foram concedidos um arrependimentolegítimo. Apesar do arrependimento em si não poder evitar a colheita das consequências,ele certamente alterará a forma como adversidade poderá ser enfrentada, caso o arrependimento ocorra. A Escritura afirma que a decadência moral e Israel estava tão grande, mas tão grande, que o texto de II Crônicas 33. 9 diz que os Israelitas “fizeram pior do que as nações que o SENHOR tinha destruído de diante dos filhos de Israel”.Conseguiram se torna pior do que as nações idólatras, infanticidas, pedófilas e zoofilas que os cercavam, assim o juízo de deus não tardou. Isso nos deixa uma lição: Quando chega o ponto de Deus lançar juízo sobre uma nação é por que aqueles que deveriam ser referência já não são mais. Mesmo os países que hoje são considerados pós cristãos, mas ainda pousem um IDH e economia e índice de violência muito inferior ao nosso, devem isso ao impacto causado por homens de Deus do passado são esses países que compõem o chamado “primeiro mundo” (Inglaterra, Holanda, EUA, Dinamarca, Suíça, Alemanha, Suécia, Noruega etc.). Obs: Todos com herança protestante.

II. Para produzir arrependimento e concerto:
No entanto, essa servidão sobre aqueles sobre os quais não repousou qualquer tipo de
arrependimento, não apenas será muito mais dolorosa, como também uma forma, por
meio da qual o pecador impenitente poderá deparar-se com a necessidade de Cristo em
sua vida. Isso pode ser bem exemplificado no caso já citado do rei Manassés: O texto de II
Crônicas relata que, devido aos seus pecados, após não dar atenção às repreensões do
Senhor, Deus enviou contra eles os comandantes do exército do rei da Assíria, os quais
prenderam Manassés, colocaram-lhe um gancho no nariz e algemas de bronze, e o
levaram para a Babilônia. E lá, em sua servidão, diz o texto que “reconheceu Manassés
que o Senhor era Deus” (v.13). A adversidade, a servidão, a privação pode fazer com que
o pior dos pecadores, o mais vil dos homens e o mais perdido dos ímpios reconheça a
soberania de Deus. Quanto a causa da servidão é o pecado, Deus ordena o cativeiro para
que assim, porventura, o não converso possa ter um encontro verdadeiro com Cristo.
Também o capítulo 2 do livro dos Juízes, é conhecido como “o pequeno livro dos Juízes”,
pois nele está contido o eixo em torno do qual toda a narrativa do livro gira: Pecado,
servidão, arrependimento e libertação. O texto informa que, após a morte do general
Josué, O Senhor não removeria da terra o restante das nações perversas que Josué havia
derrotado, para “(...) para por elas provar a Israel, se há de guardar, ou não, o caminho do
Senhor”(v.22).

III. Para aparar arestas na nossa vida: 
Muitas vezes, Deus promove limitações, situações de servidão em nossas vidas, não apenas por causa de um pecado ainda não confessado, mas para que por meio dessas dificuldades, arestas sejam aparadas em nossas vidas. As provações e privações muitas vezes são instrumentos de Deus para que, por meio delas, nos aproximemos de Deus. Isso é ratificado pela própria Escritura quando o salmista arremata “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sal. 119.71). Para tanto, basta notar o já conhecido caso de Jó que em meio a uma sucessão de perdas, materiais, familiar, da saúde e a falta de apoio por parte da esposa que chegou a sugerir “amaldiçoa esse seu Deus, e morre” e com três amigos que mais pareciam inimigos para acusá-lo de um pecado que ele não possuía, Jó clamou: Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus (Jó 19:25,26). Jó sabia que tudo era de Deus e para sua glória –
afirmava ele – “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o
Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21). E, no final do livro, lemos o
resultado: O Senhor virou o cativeiro de Jó.

IV. Para o nosso crescimento:Paulo nos diz em Romanos 5.3: Por que sinto prazer na
tribulação, pois a tribulação produz a paciência, a paciência a experiência, a experiência a
esperança e a esperança não traz confusão porquanto ao amor de Deus está derramado
em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Quanta coisa uma tribulação
produz! Paciência, experiencia e esperança. Lembre do caso de José, antes de depois do
cativeiro. Lembre de Daniel, antes e depois da cova. Israel antes e depois do cativeiro.

V. Promover a unidade dos sinceros: A privação da liberdade religiosa, por exemplo, promove a união dos verdadeiros cristãos. Veja o caso da China, de oitocentos mil membros antes do regime maoista foi para 50 milhões depois. Note o caso da própria igreja primitiva e progressão proporcional entre privação da liberdade religiosa e crescimento quantitativo. Observe: Mateus 10, 12 discípulos. Em Lucas 10, 70 discípulos. Em I Coríntios 15 quando Paulo faz referência a Atos 1 (a assunção de Cristo) quase 500 irmãos. Em Atos 2, na primeira pregação de Pedro, 3.000 almas. Em Atos 3, na segunda pregação de Pedro, 5.000 almas. E, finalmente, em Atos 4.32, a multidão dos que criam.

VI. Experiência para ajudar os outros:Note, por exemplo, o texto de II Coríntios 1.3,4 quando Paulo diz: Bendito seja o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação;
Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que
estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos
consolados por Deus. Eu passo por tribulação, Deus me consola, e quando vejo outro
irmão passando pela mesma privação na qual Ele me consolou, eu consolo outro.

VII. No cativeiro, os fieis tem as maiores experiências sobrenaturais:
Não é a toa que Filipenses, Colossenses, Efésios e Filemon são assim chamadas de
cartas do cárcere. Nesse período, Paulo estava preso. A carta da alegria (Filipenses) foi
escrita quando Paulo estava em um dos seus momentos mais difíceis: A prisão, o
cativeiro. A maior revelação da Bíblia, o Apocalipse, João estava exilado em Patmos. As
maravilhosas visões do livro de Daniel que são uma das profecias cumpridas mais
patentes da história humana, ocorreram durante o cativeiro babilônico.

d) Vivendo em paz no cativeiro “Edificai casas e habitai-as; e plantai jardins, e comei o seu fruto.(...) e multiplicai-vos ali, e não vos diminuais. - No cativeiro, a vida continua. Muita gente pára a própria vida no momento de privação. No dia na angústia, quando se sofre uma perda muito grande, passam por privações ou limitações de qualquer tipo, muitos sentem o desejo de desistir e se entregar à angústia, a depressão, ao pecado. Esquecendo-se que é nessas horas que devemos nos apegar mais e mais à cruz de Cristo sabendo que certamente é um meio para que nosso caráter seja aperfeiçoado e que “todas as coisas (não apenas algumas, mas todas) contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”. O salmista Davi no Salmo 116, fala de como ele procedeu no dia da sua adversidade, da sua privação de paz e da sua angústia. Ele diz:


Amo ao SENHOR, porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica.Porque inclinou a mim os seus ouvidos; portanto, o invocarei enquanto viver. Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza. Então invoquei o nome do Senhor, dizendo: Ó Senhor, livra a minha alma.Piedoso é o Senhor e justo; o nosso Deus tem misericórdia. O Senhor guarda aos símplices; fui abatido, mas ele me livrou.Volta, minha alma, para o teu repouso, pois o Senhor te fez bem. Porque tu livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda. Andarei perante a face do Senhor na terra dos viventes. Cri, por isso falei. Estive muito aflito.


No seu aperto Davi clamou a Deus. O mundo não vai parar por causa das nossas adversidades e privações. Ele não gira em torno de nós. Aliás, o mundo nos odeia (João 15.18). Se pararmos ele nos atropelará, se titubearmos ele nos devorará seja pela sedução, seja pela opressão. É por isso que em Provérbios 24.10, a Bíblia diz que “se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena”.

e) Os perigos do engano. “(...)Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, (...)Porque eles vos profetizam falsamente - Houveram três deportações - em 605 a.C., em 597 a.C. e em 586 a.C. -, durante as quais tanto o povo como seus tesouros foram levados para a Babilônia, Como Zedequias reinou de 597 a 586 a.C., os falsos profetas estavam se referindo à deportação de 605 a.C., quando Daniel e seus amigos foram levados para a Babilônia juntamente com alguns dos tesouros do templo (Dan 1:1, 2). É comum, mesmo no meio “cristão”, certos “profetas da prosperidade”, terem uma atitude similar a esses profetas do anti-exílio, da anti disciplina. O discurso desses homens é “Deus não quer que você sofra! “Decrete sua vitória!” Você é filho do Rei, você deve usufruir do melhor dessa terra!” Ou, não aceite essa doença!” Ou, o não menos importante, “se você está nessa situação miserável é por que te falta fé!”

Isso é uma covardia, tanto do ponto de vista da verdade das escrituras, como contra o bom senso, haja vista que a certos tipos de males, a própria Escritura nos informa que o mesmo sucede a todos:


Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao mau, ao puro e ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento. 3 Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: que a todos sucede o mesmo. (Eclesiastes 9.2-3)

Não obstante, a despeito do mau comum que na maioria das vezes acomete a todos os homens, há o sofrimento e a privação inerentes à vida cristã verdadeira, pois a grande verdade da genuína fé cristão, citando e parafraseando um pregador atual reformado, John Piper, é que você irá sofrer! ”. O próprio Mestre ratificou em João 16.1 que “ vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus.” Paulo ratifica em Romanos 8.6 que seremos “co-herdeiros de Cristo contanto que soframos com Ele”. E novamente em Filipenses 1.29 quando arremata que “a vocês foi dado o privilégio de, não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por Ele”. Novamente em Atos 5.41 as Escrituras informam que “Os apóstolos saíram do Sinédrio, alegres por terem sido considerados dignos de serem humilhados por causa do Nome. O proposito de Deus ao criar o universo é demonstrar a grandeza da glória de Sua graça suprema no sofrimento de seus filho, porque não há outra maneira que o mundo possa ver a suprema glória de Cristo hoje, exceto que nós rompamos com Disneylândia do falso evangelho moderno e comecemos a viver um estilo de vida de sacrifício o qual mostrará ao mundo que o nosso tesouro está no céu e não na terra.


Esse maldito evangelho de prosperidade não fará ninguém glorificar a Cristo, somente a prosperidade! É claro que eu teria um Jesus que me dá um carro. Quem não gostaria de ter um Jesus que lhe dá saúde, um carro do ano, um bom casamento? Eu teria esse Jesus, dizem eles, se o pagamento for certo! Nada disso trará glória para o Cristo sofredor. Você está disposto a se unir ao Filho de Deus, para demonstrar a suprema satisfação da glória da graça unindo-se à Ele na via do dolorosa do Calvário? A verdade, amados, é que o sofrimento, a privação a dificuldade e, as vezes, até a disciplina, são as condições por meios das quais, Deus soberanamente decretou que nos identificaríamos com Ele. Nas palavras do salmista Ele é um Deus Sofredor (Salmo 86.15).

Contudo, O ditado latino diz: "O povo deseja ser enganado, então deixe-os enganar". Não é a mera credulidade que engana os homens, mas o seu próprio "amor perverso pelas trevas ao invés da luz". Basta ver o exemplo de Aarão e o bezerro de ouro (Êxodo 32: 1-4). Assim, os judeus fizeram ou fizeram que os profetas lhes dissessem sonhos encorajadores (Jeremias 23:25, Jeremias 23:26, Eclesiastes 5: 7, Zacarias 10: 2, João 3: 19-21).

Calvino, em seu comentário, diz que Jeremias transferiu para todo o povo o que pertencia a alguns; pois sabemos que os ministros do diabo são apreciados não só pela credulidade tola dos homens, mas também pelo seu próprio apetite depravado. Pois o mundo nunca é enganado, mas de bom grado se entregam a sua própria destruição, buscam falsidades em todas as direções e, apesar de não quererem se enganar, eles, no essencial, tentam de forma paradoxal se enganar. Se alguém perguntasse ao mundo se desejam ser enganados? Todos gritariam, do menor ao maior, que eles não desejam isso. Logo, de onde é que Satanás dá sinais, atrai vastas multidões, senão pelo fato que somos por natureza propensos ao que é falso e vão? Depois, há outro mal, que preferimos a escuridão à luz. Jeremias, então, não cometeu erro para com o povo, dizendo-lhes que não ouvissem os sonhos que sonhavam.

f) Um limite para o sofrimento “Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, eu vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar - O cativeiro tem um fim. Há um tempo determinado para início e fim de uma aflição que é promovida por Deus, como já visto, pra promover a disciplina, aprimoramento, santidade, conversão, julgamento ou obediências dos homens. E, por fim, após o resultado promovido pela aflição decorre mais uma promessa: “cumprirei minha boa palavra”. Isto é, a restauração dos remanescentes. Os que são dEle, sempre sairão melhores, mais fortes e amando mais a Deus após suas aflições. O mesmo profeta Jeremias, em suas lamentações diz:


Pois o Senhor não rejeitará para sempre. 32. Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a grandeza das suas misericórdias.33. Porque não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens. (Lamentações (3.31-32)

A despeito do desconhecimento dos nossos próprio limites, é Deus que, em última instância, determina os limites do nosso sofrimento e não nós mesmos. Nesse giro é que Paulo fala que “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape” (I Coríntios 10.31). Paulo pinta esse mesmo quadro expor os limites desse sofrimento, ao afirmar que “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (II Coríntios 4:8,9). Observe que Paulo diz que o próprio Deus promove o sofrimento, a privação, a disciplina e o cativeiro, mesmo na vida do cristão, mas o próprio Deus estabelece um limite dentro desse sofrimento: o limite da tribulação é a angustia, o da perplexidade é o desânimo, o da perseguição é o abandono e o do abatimento é a destruição. Esse limite não será ultrapassado enquanto estivermos em Cristo e o fim dessa paciência é sempre a restauração.

g) Ele tem um plano “Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança.” - Há um ditado que diz que “A consciência faz de todos nós covardes". Como Deus não deixou Israel na Babilônia, então Ele não nos deixará nos nossos pecados se aceitarmos Sua salvação. O homem do Antigo Testamento clama: 'Ai de mim! porque eu vi o Senhor. "O homem do Novo Testamento diz: 'Sai de mim; Pois eu sou um homem pecador, Senhor! "Todo mundo sabe que deve haver uma distância entre Deus e o pecado, mas os espiritualmente iluminados sabem que o caminho apropriado é afastar o pecado - não pedir a Deus que nos deixe.

Aquele que entende o Evangelho sabe que Deus despojou o pecado pelo sacrifício de Cristo - que Jesus isolou o pecado pelo próprio sacrifício. Portanto, Deus pode pensar pensamentos de paz e não de maldade em relação a nós pecadores. É por causa de um Cristo que foi crucificado que Ele pode ter pensamentos de paz sobre nós. O pecador foge de Deus. O Deus de sua imaginação pode ser um Deus de vingança e de pensamentos malignos sobre nós. Mas a verdadeira imagem de Deus é dada aqui. "Os pensamentos que penso - pensamentos de paz, e não de mal". Deus sabia que nos dias do cativeiro e da desilusão com os falsos profetas, os homens diriam que Deus havia os abandonado e que esses tempos maldosos eram apenas o começo do fim, pregando "outros Evangelhos" não estampados com o caráter divino da graça livre.

Consciências inseguras trazem uma visão sombria de Deus por parte do pecador. É dever da consciência condenar o pecador e fazê-lo sentir o pecado dele, mas é o trabalho do Evangelho persuadi-lo a misericórdia de Deus. John Wesley, diz que a expressão “para vos dar” aponta que essa libertação não dependerá de seus méritos, mas da própria misericórdia divina, pensamentos e propósitos gentis. Já o puritano John Gill, complementa ao dizer que a expressão “para vos dar um futuro e uma esperança”, no sentido místico, pode ter referência ao Messias, em quem todos os pensamentos de paz que Deus tem em relação aos eleitos; Ele é o Alfa e Omega, o princípio e o fim de todas as coisas, de todas as coisas na criação: ele foi prometido e profetizado há muito tempo e foi muito esperado; pelos santos antes do dilúvio; de lá para Moisés; de Moisés a Davi; de Davi ao cativeiro babilônico; desde então aos tempos de sua vinda, quando havia uma expectativa geral dele; e o fim esperado foi dado, como exemplo de graça e boa vontade para com os homens. Também pode ser aplicado à salvação por Cristo; o fim de todos os propósitos e projetos graciosos de Deus; o fim da aliança da graça, as provisões, as bênçãos e as promessas dela; o fim da chegada de Cristo ao mundo e da sua obediência e morte; o fim de suas orações e preparativos agora no céu; e o fim da fé dos santos na terra: este é um fim esperado, esperado e esperado pela fé; e para o qual há uma boa razão; uma vez que é forjado, preparado e prometido; os santos são herdeiros; e agora está mais perto do que quando eles acreditavam; e será concedido como um presente de graça livre, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor; e será apreciado como o problema e o resultado dos pensamentos eternos de Deus em relação a eles. Deus não havia encerrado Seu relacionamento com Judá; Ele se lembrava de Suas promessas de restauração.

h) O objetivo final “Então me invocareis, e ireis e orareis a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração.” - Por fim, como toda carta exortativa, é desvelada a promessa derivada da obediência e fruto do castigo disciplinar. O termo “Então” é um indicativo de consequência, ou seja, “Então, sim, depois dessas coisas”, ou, “Assim, após esse processo”. Portanto o versículo em questão é uma explicação divina acerca do efeito tratativo do cativeiro: Se padecerem, conforme a minha palavra nesse cativeiro, finalmente vocês me buscarão e me encontrarão, quando me buscarem com um coração inteiro... Note que a questão não é apenas diretiva, “a quem buscar”, mas também como buscar, “de todo (não com uma parte, nem com 90%), de todo o coração”. O sofrimento não apenas mudaria o rumo da adoração daquele povo, mas até mesmo a intensidade com a qual buscariam ao verdadeiro Deus. Não adianta estar no caminho certo se estivermos claudicando nele. Pouco vale vir a igreja todo o domingo, ou mesmo diariamente, se nossa vida prática em nada nos difira do ateu prático.

Se no serviço condenamos a prática religiosa dos outros, mas além de não lhes pregarmos o evangelho, nos pegamos em gracejos imorais com os réprobos, se na igreja somos rigorosos na obediência quase cega à normas institucionais, mas em casa você é um marido biblicamente passivo, um pais omisso que não impregna respeito aos próprio filhos que mesmo na igreja acabam não respeitando as demais autoridades, ou mesmo um filho rebelde. Se assim for, seremos como aqueles sobre os quais falou Isaías ao dizer que “esse povo me louva com seus lábios, mas seu coração está distante de mim” (Isaías 29.13)” Não adianta a mera prática ortodoxa sem um coração legitimamente voltado para Cristo, isso é farisaísmo, pura hipocrisia E o puritano John Bunyan em seu livro, o peregrino, chama isso de atalho para o inferno. E essa era a dicotomia vivida naquela época... naquela época?? Isso não nos soa familiar? Os que buscam “fervorosamente” estão mau direcionados, e os que estão corretamente direcionados, buscam a um deus que parece estar morto, porque o fazem com o mesmo ânimo de quem vai a cozinha beber água entre uma propaganda e outra de uma novela... A promessa de Deus, por meio do sofrimento é dupla: Não apenas os que não buscam a Deus poderão encontrá-lo, mas quando o o encontrarem o buscarão como sentindo que nunca o deveriam ter “perdido”. Precisamos do sofrimento, o cativeiro vem de Deus, e é ordenado por ele para o nosso benefício. O sofrimento nos identifica com Cristo.

Encerro citando novamente John Bunyan: O povo de Deus é como sinos; quanto mais forte lhes baterem, melhor será o som.


Por Diogo Vasconcellos.

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